Crítica: César deve morrer (2012)


Título Original: Cesare deve morire
Realização: Paolo e Vittorio Taviani
Argumento: Paolo e Vittorio Taviani 
Elenco: Salvatore Striano; Cosimo Rega; Giovanni Arcuri. 

[Spoilers] Um grupo de indivíduos escolhidos para representar em palco a peça de William Shakespeare Júlio César. Uma premissa que pareceria simplista obstante o facto de serem reclusos a encarnar as personagens. É precisamente nesse aspecto que reside a alma deste filme. É-nos fornecida a informação dos crimes ou infracções que os puseram ali em primeiro lugar e cabe ao espectador decidir com que óculos observa estes prisioneiros moldados em personagens.

É interessante a posição que a câmara adopta no casting, ao oferecer-nos um enquadramento unicamente focado na tentativa de representação de cada um dos reclusos. Como se durante uns minutos o realizador nos quisesse fazer esquecer dos feitos destes homens e do ambiente onde nos encontramos. E quase que inevitavelmente optamos por ignorar que não estamos perante actores profissionais e adoptamos a postura de júri, a mesma na qual o enquadramento nos coloca. Escrutinamos cada representação individualmente e acabamos por fazer as nossas próprias escolhas. E elevam-se então ao estatuto de actores.
É maravilhoso observar o envolvimento e o interesse de cada um no funcionamento da peça. O entusiasmo ao ensaiarem nas suas celas, na tentativa de decorarem as falas e de atingirem a melhor expressividade corporal. Envolvem-se de corpo e alma. A peça dá-lhes uma vida dentro daquelas paredes, algo onde libertar o pensamento.
Chegada a altura de se apresentarem em palco defronte a uma audiência, o filme muda o seu tom para se apresentar a cores. Tal como o postal que apresenta um cenário paradisíaco. Uma frincha para a fuga da realidade aprisionada? Ou uma simples mudança do ensaio representado a preto-e-branco para o colorido do resultado final? O colorido para representar o momento em que se entregam verdadeiramente ao papel de actores?
Uma grande audiência. A vivência das personagens dá-se no seu expoente máximo, com os reclusos a aproveitarem a oportunidade de serem ouvidos. Como se no ambiente em que se encontram só estão aptos para demonstrar os seus sentimentos numa mescla de representação. O público aplaude efusivamente. Os actores celebram. Cai o pano e com ele volta a cair a liberdade. A importância que tinham ao desempenharem as personagens deixa de existir e são reduzidos à insignificância ao voltarem para as celas.


“Ever since I became acquainted with art, this cell turned into a prison.”


Classificação: 7/10

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