Crítica: Três Cantos sobre Lenine (1934)

Título Original: Tri pesni o Lenine
Argumento e Realização: Dziga Vertov

[Spoilers] Lenine, chefe de Estado russo, líder do Partido Comunista e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Igualmente responsável pela Revolução Russa de 1917, a mesma retratada inúmeras vezes no grande ecrã. Cineastas como Dziga Vertov e Sergei Eisenstein puseram as suas câmaras a trabalhar em prol desta revolução, tornando visível a informação para os espectadores dos dias de hoje. Lenine foi uma grande influência no cinema de Vertov e na sua própria forma de ver o mundo. A 21 de Janeiro de 1924, com apenas 53 anos, Lenine morre e deixa a Rússia um pouco mais pobre. Em jeito de cultivo da memória do chefe de Estado por entre a população, Lenine lança o seu filme Três Cantos sobre Lenine (1934).

“Lenin died but the party he created lives on”

Várias pessoas cantam por toda a Rússia músicas sobre Lenine, sobre a sua presença no mundo e a herança que deixou à população. Lenine, o libertador dos oprimidos, agora cantado pelos mesmos em jeito de homenagem. Este documentário foca-se em três músicas e por esse mesmo motivo, divide-se num trio de episódios. Cinquenta e sete minutos divididos equilibradamente perante cada música. As imagens iniciais dão a impressão de Vertov tentar perceber o que Lenine viu segundos antes de morrer, ao enquadrar a vista que este tinha quando deitado na cama. Um plano destaca o banco onde Lenine se costumava sentar. Perto do final do filme o mesmo banco é destacado mas agora coberto de neve, reforçando a ausência do chefe de Estado. Para intensificar a ideia de que o tempo assenta e a população não tem outra solução senão avançar e continuar a lutar. Aliás, o ritmo da montagem é brilhantemente bem conseguido no que toca a transmitir essa mesma ideia, a ausência de Lenine.
O cineasta russo decide focar-se em músicas que espelham realmente a importância do revolucionário para a população.
A primeira música exalta os seus feitos quando vivo. Acompanha um conjunto de imagens que mostram seu poder mas também a força do proletariado. Daí se poder concluir que este documentário não é só uma homenagem a Lenine mas também uma Ode à luta diária da população. Um povo que mesmo depois da morte do seu orientador, tem força para continuar.
A segunda música mostra o luto perante a sua morte. Observamos o corpo de Lenine num caixão aberto e apercebemo-nos que continua a ser o mesmo no coração de cada um, mas agora encontra-se em silêncio e sem movimento. Vários close-ups destacam e espelham o rosto de tristeza de alguns apoiantes de Lenine. A sempre bem executada montagem de Vertov intercala imagens de guerra com imagens de pobreza, mostrando como ambas se complementam. A cada novo filme era possível observar o aperfeiçoamento da sua técnica de montagem e neste não é excepção.
O terceiro e último episódio mostra onde se encontra sepultado o corpo de Lenine. Onde o mesmo pode ser visitado e recordado. O mundo avança e várias biografias de Lenine são publicadas, mostrando uma das formas que permite à população que o mantenha na memória. Com o uso dos intertítulos, Vertov faz questão de lembrar que a vida tem de ter seguimento, pois estão a percorrer a estrada que Lenine pavimentou. Neste episódio nota-se um ritmo de montagem mais acelerado, exaltando um mundo que não pode parar. É de salientar ainda o uso de planos em contra-picado de forma a enaltecer o chefe de Estado russo.
O cineasta russo era extremamente organizado, guardando todas as imagens em arquivo que filmava ou recebia de outros realizadores e(ou) operadores de câmara. Esse mesmo extenso espólio de brutos permitiu-lhe montar Três Cantos sobre Lenine, o documentário propagandista que muitos críticos afirmam como sendo a sua obra-prima absoluta. Uma colecta de imagens que mostram que Vertov estava sempre dentro dos acontecimentos.

“De todas as artes, a mais importante para a Rússia, na minha opinião, é a arte cinematográfica.”


A citação anterior de Lenine mostra a consideração que este tinha perante a sétima arte. Por esse, e muitos outros motivos, Vertov homenageou o homem que elevou a sua arte a um patamar superior.


Classificação: 7/10

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